Notícia - Brasil: Transmissão vertical do HIV cai 70% em 10 anos

Brasil: Transmissão vertical do HIV cai 70% em 10 anos

A taxa de transmissão vertical do vírus HIV, situação em que a criança é infectada pela mãe durante a gestação, o parto ou a amamentação, caiu 70% nos últimos dez anos em todo o Brasil. Segundo dados do Boletim Epidemiológico Aids/DST, em 2001 foram registrados 213 casos de recém-nascidos contaminados, enquanto em 2010 o país computou somente 63. De acordo com o mesmo levantamento, até junho de 2011 apenas 12 bebês foram notificados com o vírus da aids. A meta do Ministério da Saúde é zerar o número de contaminações verticais até 2015.

Nas últimas três décadas, 4.209 crianças com menos de 1 ano foram diagnosticadas com o vírus. A queda do índice de transmissão começou com o fortalecimento das políticas públicas de combate à aids, a partir da segunda metade da década de 90.

Segundo o diretor-adjunto do Departamento de DST/Aids do Ministério da Saúde, Eduardo Barbosa, em anos anteriores o tratamento deixava a desejar. “A rede de saúde deixava muitas lacunas, com pouca oferta de medicamentos e tratamento. Hoje, nós já temos condições de zerar a transmissão vertical daqui a 4 anos”, afirma. De 2000 a 2009, foram identificadas 54.218 gestantes soropositivas no país.

Para o psicólogo e coordenador do Polo de Prevenção DST/Aids da Universidade de Brasília (UnB), Mário Ângelo Silva, a queda acentuada de bebês portadores de HIV é reflexo da quase obrigatoriedade da realização de exames rápidos de aids em gestantes. “Essa política de saúde pública adotada no país tem possibilitado detectar a presença do vírus antes de os bebês nascerem. Dessa forma, é possível aplicar a medicação adequada na mãe e, depois do nascimento da criança, já se torna viável medicar o bebê”, salienta.

De acordo com a recomendação do ministério, para evitar o contágio o recém-nascido precisa tomar um medicamento específico nas primeiras duas horas de vida às próximas seis semanas. Além disso, a criança deve fazer acompanhamento em serviço de referência até completar 18 meses de vida. “Após esse período é realizado novo exame para ver se o vírus sumiu do organismo”, reforça Mário Ângelo.

Pré-natal

Segundo Eduardo Barbosa, diretor do Ministério da Saúde, o conhecimento precoce do estado da gestante e o uso de medicamentos antirretrovirais durante a gravidez são as principais estratégias para evitar a transmissão vertical. Segundo ele, ainda é necessário intensificar as campanhas de pré-natal. “As mulheres devem fazer o pré-natal corretamente e tomar a medicação prescrita. Se forem tomados todos esses cuidados, temos uma chance superior a 95% de a cri­­ança nascer soronegativa. Esta­­mos investindo na capacitação da rede de maternidades de todo o Brasil para eliminarmos a trans­­missão vertical”, diz.

Mário Ângelo explica que os maiores riscos de contaminação dos recém-nascidos acontecem durante o parto e a amamentação. “As mães soropositivas não podem amamentar e é recomendável que não seja realizado parto normal, já que o bebê terá contato direto com o sangue da mãe”, aponta. Conforme determinação do governo federal, a criança terá direito a receber gratuitamente uma fórmula láctea infantil até, pelo menos, completar seis meses de idade.

Soropositiva na 4.ª gravidez

Vanderli Ramos, de 35 anos, adquiriu o vírus HIV aos 24, no decorrer do seu segundo casamento. Mãe de três filhos do primeiro relacionamento, ela descobriu que portava a doença durante o parto da sua quarta filha. Hoje, a dona de casa, que reside em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, está na gestação do sétimo filho, que será o quarto a nascer após a descoberta do vírus no organismo.

Ela conta que nunca conversou com o atual marido sobre como ele adquiriu o vírus. “A única forma pela qual eu posso ter sido contaminada é pelo relacionamento sexual. Depois que eu fiquei sabendo que estava com HIV, meu marido fez exame e também viu que portava o vírus. Mas nunca discutimos como aconteceu a transmissão dele”, conta.

Vanderli relata que, após o nascimento da filha, a ansiedade e o medo de o bebê também ser soropositivo foram enormes. “Eu não sabia o que fazer. No primeiro momento, a sensação foi de desespero. A gente deu a medicação a ela e, após um ano e oito meses, em um novo exame, confirmamos que ela não carregava o vírus. A felicidade foi enorme”, descreve.

Nos dois partos seguintes, os cuidados foram maiores. “Eu já estava tomando toda a medicação antes e durante a gravidez. Mesmo assim a gente fica 18 meses com o coração na mão até o exame provar que o bebê não é soropositivo”, afirma. Os mesmos cuidados são tomados por Vanderli nesta gravidez. “Não tem como não se cuidar”, diz.

A dona de casa participa há quase 11 anos do grupo Re­­vi­­ver, de Ponta Grossa, que presta atendimento voluntário a pessoas soropositivas e suas respectivas famílias. Atu­­al­­mente, cerca de 500 pessoas são atendidas pela organização. “Aqui a gente percebe que dá para conviver normalmente com o vírus, desde que se faça o tratamento adequado. Na ges­­tação, os cuidados devem ser maiores para não adquirir uma doença que abaixe o sistema imunológico. E o mesmo deve acontecer nos primeiros meses de vida dos bebês. Só não controla o vírus quem realmente não quiser e não for atrás de atendimento”, ressalta Vanderli.

Fonte: Rádio Vale verde FM, Gazeta do Povo, 21.2.12

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