Notícia - Ativistas sugerem perfil de profissional para ocupar vaga deixada por Dirceu Grecco, exonerado pelo ministro Alexandre Padilha

Ativistas sugerem perfil de profissional para ocupar vaga deixada por Dirceu Grecco, exonerado pelo ministro Alexandre Padilha

Na semana que passou, o Brasil assistiu uma crise sem precedentes em um programa de saúde considerado modelo e vanguarda para todo o mundo. Construído, pactuando sempre com a participação da sociedade civil nas instâncias municipal, estadual e federal, o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais perdeu em uma tacada só seu diretor, o adjunto e o assiste. Dirceu Grecco foi exonerado, Eduardo Barbosa e Ruy Burgos pediram demissão em solidariedade. A saída dos três gerou protestos e indignação em vários locais do Brasil, em diferentes representações de redes sociais nos estados da federação e desencadeou um movimento que pede a saída do Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, do posto que ocupa. Tudo isso aconteceu em função da peça publicitária voltada para as profissionais do sexo “Sou Feliz Sendo Prostituta” que ocupou o site do Departamento Nacional por alguns dias, depois foi vetada pelo próprio Ministro alegando que a publicidade não havia passado pela aprovação do setor de comunicação social da pasta e que não continha mensagem direta de prevenção.

Combustível para mais uma crise na Saúde. Na quinta-feira, o Ministério relançou a campanha “Prostituta que se cuida usa sempre camisinha” nas redes sociais, informando que a ação vai circular até o dia 2 de julho. No Brasil, tem um ditado popular direto e claro: “Não adianta chorar pelo leite derramado.” A peça já havia sido colocada nas redes sociais, havia sido pactuada com as profissionais do sexo em oficinas realizadas em João Pessoa entre 11 e 14 de março. Ao retirar do site do Departamento a fala das profissionais, o Ministério, disseram os ativistas, “desrespeitou o movimento e o ativismo brasileiro”. O governo agora tem alguns desafios em meio a esta situação gerada em uma semana conturbada e marcada por saias justas em Brasília: conseguir um nome que tenha transito e confiança entre os ativistas que pedem a saída do ministro Padilha, ao mesmo tempo que tenha condições e estatura técnica e profissional para reestruturar o Departamento.

A Agência Aids ouviu ativistas que fizeram sugestões de como deve ser o perfil deste, ou desta profissional que terá esta missão, não impossível, mas complexa, difícil e engenhosa, como o enfrentamento do HIV costuma ser.

Jorge Beloqui, do Grupo de Incentivo à Vida (GIV): “Não é o perfil do coordenador que vai consertar as coisas. O perfil do ministro é que tem que mudar para que se possa ter uma política de prevenção e assistência baseada nos direitos humanos e no direito das populações mais atingidas. Enquanto isso não for alterado não haverá coordenador que resista, e isso vai trazer graves consequências para a população”.

Nair Brito, Cidadãs Posithivas: “Não tem como enfrentar a epidemia se não falarmos de sexo, drogas, da vulnerabilidade das populações específicas. O Brasil tem uma epidemia concentrada, que se expande cada vez mais nessas populações vulneráveis. Então, esta pessoa, terá que ter competência para ouvir, necessitará do apoio de uma equipe técnica que consiga traduzir as demandas e também autonomia para produzir um material que reduza as vulnerabilidades existentes. Gerando crises assim, o governo tem denunciado a sua própria incompetência”.

Mário Scheffer, presidente do Grupo Pela Vidda (Valorização Integração e Dignidade do Doente de Aids) de São Paulo: “São três os quesitos necessários. A pessoa deve ter autonomia, resgatar os pilares da política de prevenção e os direitos humanos, e ter respeito às populações mais vulneráveis. Também deve ser alguém capaz de superar as limitações da gestão anterior, como a capacidade de diálogo com a sociedade civil organizada, e de repor e agregar novos quadros de técnicos qualificados”.

José Araújo, coordenador do Espaço de Prevenção e Atenção Humanizada (EPAH): “Deve ter um histórico de comprometimento com as minorias, sejam elas as prostitutas, os homossexuais, as pessoas vivendo com HIV, ou outros. Ousadia também é fundamental, além de ser forte para não se dobrar diante do conservadorismo que hoje está no nosso governo. Deve ter um canal aberto com todo o movimento da sociedade civil e conhecimento da história do programa de aids no Brasil. Além disso tem que querer que o Programa de Aids saia do lugar porque antes nós estávamos parados, e agora, com essa situação, voltamos para trás”.

Márcio Vilar, da ONG Pela Vidda do Rio de Janeiro: “Eu acredito que o escolhido deva ser um sanitarista ou alguém envolvido com o Sistema Único de Saúde (SUS), mas não necessariamente um médico. Além de ter experiência em campo com HIV e aids, eu penso que na atual conjuntura, se ele viver com o vírus será ainda melhor, pois se houver qualquer tipo de falta essa pessoa também vai sentir na pele. Quem assumir o cargo também precisa ter liberdade, porque não adianta tentar colocar uma campanha que fale com o público jovem, com homossexuais, ou com as prostitutas se até o Papa vem palpitar sobre o assunto”.

Willian Amaral, do Núcleo Rio de Janeiro da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+): “ Antes de qualquer coisa, essa pessoa deve ser compromissada com os princípios de Direitos Humanos das populações vulneráveis ao HIV, ter trajetória com o movimento social, e sensibilidade acadêmica para essa questão”.

Renato da Matta, da secretaria do fórum de ONGs do Rio de Janeiro: “A pessoa não deve ter predileções religiosas. É preciso também que ela conheça profundamente as demandas das pessoas com HIV, das populações LGBT, dos profissionais do sexo e principalmente que seja acessível ao movimento social”.

Rodrigo Pinheiro, presidente do Fórum Ong Aids SP: “Sem sombra de dúvida, essa pessoa deve conhecer o trabalho com aids, e, principalmente, ter sensibilidade na atuação com populações mais vulneráveis a infecção pelo HIV.Coragem e determinação para enfrentar políticas conservadoras que hoje dominam a gestão governamental também são ingredientes importantes neste caso”.

Roberto Chateaubriand, conselheiro do GAPA de Minas Gerais: “A pessoa deve prezar pelo estado laico, ter um diálogo bastante próximo com a sociedade civil, que tenha uma relação intrínseca com a aids e sensibilidade nesse sentido, para entender os movimentos e atuar nas áreas de prevenção e assistência. É imprescindível que ele ou ela reflita em suas ações a gramática dos direitos humanos, que não são negociáveis por políticas de governo”.

Fonte: Agência AIDS

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