Notícia - 22/02/2010 - AIDS de mãe para filho preocupa médicos

22/02/2010 - AIDS de mãe para filho preocupa médicos

Além de tentar conter a epidemia de AIDS no mundo e a elevação das estatísticas entre as mulheres, como consequência,especialistas enfrentam um novo problema: a contaminação vertical da doença, quando o vírus é transmitido de mãe para filho ainda na gestação; no momento do parto, principal forma de contágio ou no aleitamento materno.

De acordo o Ministério da Saúde em todo o país a cada 100 crianças nascidas de mães infectadas, 20 podem tornar-se portadoras. Ainda segundo o órgão, entre janeiro de 1983 e junho do ano passado foram notificados quase 11 mil casos de AIDS em menores de 13 anos devido a esse tipo de transmissão.

Na Bahia, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), não soube precisar os números quanto ao problema. No entanto, as estatísticas de modo geral são desanimadoras. De 1984, quando surgiu o primeiro caso, até o ano passado, há 8.263 registros, sendo 5.600 envolvendo a população masculina e 2.663 a feminina.

No quesito da feminilização da doença, por exemplo, a preocupação é latente, já que na década de 80, a proporção era de um caso de infecção no sexo feminino, para cada 25 casos no sexo masculino. Hoje, o número de mulheres infectadas pelo HIV no estado corresponde a quase 30% dos casos. No cenário nacional a situação é ainda mais preocupante.

O Brasil encontra-se como o país de maior índice de contágio da América Latina, com 730 mil infectados, números que colocam o país como de maior índice de contágio na América Latina. São 30 mil novos casos por ano, segundo relatório global sobre o surto da doença apresentado este ano pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre DST/AIDS (UnAids).

Contudo, o alerta é que com ações de prevenção, o índice da contaminação vertical pode reduzir para menos de 1%. "Quando a mãe sabe que é portadora da doença, ela pode se planejar para tomar todas as medidas para proteger seu filho. Se ela não sabe, precisa fazer a sorologia (exame) para HIV. O ideal é que todas as gestantes façam esse teste. Quanto mais precoce for o diagnóstico da infecção pelo HIV na gestante, maiores são as chances de evitar a transmissão para o bebê", alerta o infectologista Antonio Carlos Bandeira.

Segundo o médico, entre as ações de prevenção da transmissão vertical destacam-se a utilização de anti-retroviral (coquetel) pela mãe durante o período de gestação; uso de AZT no momento do parto por via venosa e opção pelo parto cesariano. Além disso, "a mãe não pode amamentar o bebê e a criança deve fazer uso de AZT desde o primeiro momento após o parto por um período de seis semanas. Essas ações em conjunto podem muito em seus efeitos, no sentido de evitar a contaminação", afirma.

O AZT, fármaco utilizado como droga anti-retroviral, é uma substância que ajuda a prolongar a sobrevida dos pacientes em etapas avançadas da doença. Ela age diminuindo a incidência de infecções oportunistas, ganho de peso, melhora na capacidade funcional e elevação das células CD4 (tipo especial de glóbulos brancos/células de defesa) nos indivíduos com AIDS.

Se todos os cuidados não forem tomados adequadamente, a criança tem grandes chances de nascer contaminada e, consequentemente, aumentar as tristes estatísticas, não apenas da doença, mas também de morte. "Como portadora do HIV, ela pode não apresentar sintoma algum (é uma portadora assintomática do vírus), mas pode inesperadamente ter uma doença de rápida progressão. Com isso, a criança passa a apresentar um quadro de desnutrição severa, com diversas infecções graves, como pneumonias, e inevitavelmente, não resiste e morre", explica o médico.(Por Fernanda Chagas)

Casos de morte e tristeza em Salvador

Este foi o drama vivido pela jovem Ariadne Silva, de 21 anos. Mesmo sabendo que era portadora do vírus HIV, não se preveniu e engravidou do seu segundo filho. A conseqüência foi o bebê contaminado, sem chances de viver o tempo que deveria. Sobreviveu apenas quatro meses e em seguida Ariadne também não resistiu.

Ludmila dos Santos, de apenas 19 anos, se engloba em situação semelhante, com a sorte de ainda estar viva para cuidar dos seus dois filhos soropositivos. Grávida do primeiro filho, descuidou e só foi fazer o pré-natal no final da gestação, quando descobriu que era portadora do vírus, mas já era tarde para tentar salvar o filho da doença. O bebê já estava contaminado.

"Quando minha médica descobriu o meu pequeno já estava infectado e não pude fazer nada por ele. Foi a pior dor da minha vida", afirmou, ressaltando que pegou a doença de um ex-namorado. "Por sorte o pai do meu filho também não se contaminou", complementou.

No entanto, mesmo diante de tamanha dor, como a jovem afirmou, a lição parece não ter sido válida. Engravidou pela segunda vez e nenhum cuidado foi tomado. O resultado são dois filhos com o vírus HIV e nenhuma estrutura para tratá-los.

O mais velho hoje tem dois anos, enquanto o menor apenas seis meses. "A minha vida é uma luta diária. Vivo atrás de tratamento gratuito para eles não morrerem. Não desejo isso para o meu pior inimigo", lamentou.

O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito por meio de testes realizados a partir da coleta de uma amostra de sangue. Esses testes podem ser realizados em unidades básicas de saúde, Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) e em laboratórios particulares. Nos CTA, o teste anti-HIV pode ser feito de forma anônima e gratuita. Todos os testes devem ser realizados de acordo com uma norma definida pelo Ministério da Saúde e com produtos registrados e controlados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

Fonte: Fernanda Chagas

 
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